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Resenha: No seu pescoço


No seu pescoço

Sinopse

Nas narrativas que compõem No seu pescoço, encontramos a sensibilidade de Chimamanda Ngozi Adichie voltada para a temática da imigração, do preconceito racial, dos conflitos religiosos e das relações familiares. Combinando técnicas de escrita convencional com experimentalismos, a autora parte da perspectiva do indivíduo para atingir o universal ao explorar os laços que ligam homens e mulheres, pais e filhos, África e Estados Unidos, também como alegoria do eu para o outro.

Olá queridos leitores, bom dia!

Apresento a vocês um livro que tive conhecimento através do canal Afros e Afins da Nataly Nery. Pelo tempo que a acompanho vejo que ela lê bastante e sempre que ela faz um vídeo com indicações de leitura, anoto todos, pois a considero uma mulher muito inteligente, que fala sobre assuntos que muitas outras blogueiras decidem simplesmente fingir que não estão acontecendo ao redor. Essa indicação peguei em um vídeo no qual ela apresentava uma série de outros livros que ela havia recebido de outras editoras. Geralmente não me atento falando sobre a capa do livro, mas esse vale o comentário. A mistura perfeita das cores preta, com amarelo e azul, assim como a capa interna com desenhos africanos, faz esse livro simplesmente lindo. Como o livro é de contos vou fazer a resenha em cima daquelas que mais me tocaram ao longo da leitura!

Vamos a resenha?

A historiadora obstinada, a personagem desse conto, chamada Nwamgba, quando jovem se apaixonou por Obierika, quando se encontraram em uma luta, e seus olhos não pararam de se olhar, ela sabia que ele era o homem da vida dela. Depois de alguns anos ele vai a casa dela ver o pai dela, levando cabaças de vinho de palma, ela diz a mãe e ao seu pai que aquele era com quem ela queria se casar e se caso não aceitassem ela iria fugir da casa dos outros que a obrigassem casar. A princípio a família dela não queria, pois, todos os homens da família dele eram filhos únicos, pois todas as mulheres sofriam abortos espontâneos. Não se sabia ao certo, talvez eles tivessem vendido uma menina como escrava e o deus da terra, Ani, os estava castigando.

Seu pai a achava cansativa, uma mulher obstinada, nunca deixou que as pessoas da cidade soubessem que ela havia ganhado do irmão em uma briga de mão. Sendo que ele não considerava Obierika de má família e para ele era melhor permitir que a filha se casasse com o homem que ela havia escolhido que do que ter que aguentar anos de aborrecimento quando Nwamgba brigasse com os sogros e voltasse para casa todas as vezes que isso acontecesse.

Quando ele veio pegar o dote dela, os primos dele o estavam acompanhando e logo de cara ela não gostou deles, percebia a inveja que eles sentiam de seu esposo, mas os tolerava, mesmo sabendo que eles não trabalhavam e que estavam sempre pedindo galinha e inhame. Ela fazia isso, porque Obierika os tinha como irmão e fingia não ver essa situação.

Depois de seu terceiro aborto consecutivo, foram eles quem sugeriram que ele se casasse com outra esposa. Obierika escutou e disse que pensaria sobre o assunto. Mas quando ficaram a sós, ele disse que tinha certeza que teriam o lar cheio de crianças e que não se casaria com outra mulher até ficarem velhos.

No conto os casamenteiros, quando ela chega recém-casada no apartamento do seu marido que mora nos Estados Unidos, imagina que seria como nos filmes americanos, aquelas casas grandes, brancas e com quintal verde, contudo o que ele apresentou a ela foi um apartamento velho, com poucas mobílias. Quando eles finalmente conseguem se deitar para descansar, ela espera que nenhum dever de esposa seja requerido dela, mas logo ela percebe que seu marido está dormindo ao seu lado, por conta dos roncos. Essa é uma das coisas que os casamenteiros não contam quando arranjam esse tipo de situação para as mulheres.

Antes de casaram ela morava com seus tios, justamente eles que conseguiram arrumar esse casamento, com um médico nos Estados Unidos, sua tia diz a ela que eles terão bastante tempo para se conhecerem antes de casar. Isso queria dizer duas semanas. A família dele estava preocupada pois fazia onze anos que ele não voltava a cidade natal e eles não queriam que ele se casasse com uma mulher americana. Enquanto ela tenta ligar para os tios dela, para avisar que ela havia chegado bem, ela diz que o telefone está em comunicação, seu marido a corrige dizendo que nos Estados Unidos os americanos dizem “ocupado” e é assim que ela tem que começar a falar.

Ela se dirige a cozinha para preparar um chá com leite e açúcar, como estava acostuma, mas seu marido diz a ela que nos Estados Unidos eles não tomam o chá dessa forma e que ela se acostumará com isso. Enquanto isso, a campainha toca e ele se dirige para atender a porta, ao caminhar ele andava com as mãos balançando até as costas, algo que ela só teve tempo de perceber agora que o estava observando. Ao abrir a porta uma senhora de cabelos ruivos entrega a ele a correspondência e pergunta como tinha sido o casamento, ele a convida para conhecer sua esposa. Quando elas se dão as mãos, a esposa diz: “A senhora é bem-vinda aqui”.

Isso causa um certo estranhamento, mas em seguida a senhora vai embora e o esposo diz a esposa que nos Estados Unidos as pessoas não dizem frases como essas, dizem simplesmente Oi. A esposa estranha, pois em seu país eles dizem isso a pessoas que são mais velhas. Mas aceita.

Ao longo da conversa ele diz que ninguém o chama pelo nome no qual é conhecido na Nigéria, Ofodile, mas sim por Dave, assim como o sobrenome dele também ao invés de ser Emeka, era Bell e que ela deveria adotar a mesma postura, já que os americanos não conseguem dizer o nome das pessoas vindas da Nigéria, isso tornaria as relações mais fáceis, sendo assim à partir daquele momento ela deveria adotar o nome americano que estava em sua certidão de nascimento, pois naquele país eles deveriam parecer o mais possível normais.

Vamos as minhas considerações?

Acabei fazendo a resenha de somente 2 contos. O primeiro sem sombra de dúvidas é o que eu mais gostei de todo o livro. O final dele é muito lindo, um encontro de raízes e da resistência da história nigeriana, cruzada com os laços familiares. Sempre que leio até o final (li duas vezes), choro. Não contei até o final, pois vale a leitura.

O segundo conto no qual fiz a resenha, tenho que admitir que até então eu não havia me dado conta que até a 5 página daquele conto, o nome dos dois não havia sido apresentado a quem lê...ou seja, torna relação da leitura, no meu ponto de vista mais afastado. Geralmente criamos empatia com os aqueles personagens que conhecemos o nome. Como criar empatia com personagens no qual não sabemos essa informação? Fora que algumas questões que ainda são comuns na Nigéria, como casamento arranjado, podem soar estranho aos ouvidos brasileiros. Mas o que mais me chocou nesse conto, além disso é que os dois tiveram que deixar de ser quem eram para serem consideradas pessoas normais em um país que nem de longe era o deles.

Por enquanto, dentro da nossa sociedade os nossos nomes são aquilo que somos (não é?) e de repente você deve adotar um nome que nunca usou e adquirir hábitos que nunca teve, e ainda por cima você está em um casamento arranjado, no qual teve “tempo” de conhecer a pessoa em duas semanas. Tudo isso para fugir das mazelas sociais que afloram no seu país de origem. É muito adaptação de uma só vez!

Nenhum dos contos dela são sobre vamos ser felizes e pensamento positivo mudará sua vida. Pelo contrário, todos eles são intensos e tensos. Todos trazendo a realidade que muitas vezes se faz distante aos nossos olhos. Não espere ler esse livro e pensar: “Que livro leve de se ler!” Não. Ele é um livro que trata sobre questões tabu ainda na África, como o homossexualismo, o papel da mulher dentro daquela sociedade e o papel do homem também dentro desse contexto todo. Sem sombra de dúvidas após essa leitura ela te faz refletir.

Estou entusiasmada para ler outros livros dessa autora que também tem um livro somente sobre feminismo. E vocês? Já leram alguma obra dela?

Não deixem de comentar!

Excelente semana a todos (as)

Beijos carinhosos,

Natália Carrieri.


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