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Resenha: Quem tem medo do feminismo negro?

Sinopse

Ao perder o medo do feminismo negro, as pessoas privilegiadas perceberão que nossa luta é essencial e urgente, pois enquanto nós, mulheres negras, seguirmos sendo alvo de constantes ataques, a humanidade toda corre perigo.

quem tem medo do feminismo negro?

Bom dia queridos leitores!

Hoje temos a resenha de um dos dois livros que eu estava sedenta por ler da Djamila Ribeiro, o primeiro que eu estou querendo comprar desde que foi lançado é “O que é lugar de fala”. Como eu sigo a filósofa no Instagram eu vi o lançamento do livro Quem tem medo do feminismo negro. Quando eu fui na livraria, procurei pelo primeiro título, mas não encontrei, assim como não encontrei nenhum título da Angela Davis, achei muito triste. Fica a dica livraria Nobel. Maaas, consegui encontrar esse que vou fazer a resenha e contar um pouco para vocês a minha opinião.

Vamos a resenha?

Na introdução, A máscara do silêncio, a autora afirma que pensar feminismos negros é pensar projetos democráticos. Nessa parte Djamila conversa com o leitor sobre seu passado e infância, no qual ela relata uma sensação de incômodo, quando por exemplo ela levanta a mão para responder alguma pergunta que a professora fazia e ela sabia que a mesma já presumia que ela não saberia dar a resposta correta. Ou das vezes que ficava sozinha na hora do recreio e quando os meninos da sala dela diziam que não queriam dançar com a “neguinha” na festa junina. Com alguns desses relatos, ela passou a se sentir estranha e inadequada, fazendo as coisas no automático para que ela não fosse percebida.

Ela aprendeu a jogar xadrez aos 6 anos de idade, sendo que aos 8 anos ela havia conseguido o terceiro lugar em um campeonato da cidade dela, Santos. Ela sentiu muita vergonha com tantas pessoas olhando para ela no dia da entrega do prêmio. O nome dela saiu no maior jornal da cidade e o pai dela sempre mostrava a todos que iam à casa dela, com muito orgulho. Em contrapartida todos os dias ela escutava piadas sobre o cabelo dela ou a cor de sua pele. Era nas aulas de história que ela se sentia incomodada. Os negros eram colocados em posição somente de escravos, sem passado e quando surgia uma mulher negra nas imagens, Djamila já sabia que falariam: “Olha a mãe da Djamila aí”.

Sobretudo era em sua própria casa que ela se sentia à vontade, ou poderia ser ela mesma. Soltava os cabelos crespos, era falante e segundo ela mesma até pretenciosa. Gostava de coisas que todas as crianças gostavam, ler e brincar. A família da autora era a única negra no prédio onde moravam e sempre que acontecia alguma coisa, culpavam “os neguinhos lá da frente”, sendo que na maioria das vezes eles nem tinham participação no ocorrido. Por mais que a autora tirasse boas notas, fosse inteligente e tivesse saúde, sempre havia uma sensação de inadequação.

No capítulo inicial do livro intitulado, O verdadeiro humor dá um soco no fígado de quem oprime, Djamila começa o texto descrevendo sobre Sartre e Henfil, o primeiro, pensador que criticava a arte pela arte, sendo que ela deveria ser algo com propósito. Já o segundo também compactuava com a mesma proposta, principalmente referente as questões políticas, acreditava que o humor vazio era frescura, ou sofisticação. A autora começa a conversar com o leitor sobre a forma de se fazer humor no Brasil, no qual ela diz que o que encontramos hoje é um humor vazio e que continua a propagar as opressões existentes em nosso país. Humoristas como Danilo Gentili e Marcelo Marrom fazem parte desse contexto. O primeiro chamou uma pessoa de macaco porque descordou da opinião dele e o outro sempre faz piadas com sigo mesmo e com outros negros. Como se ser negro fosse uma piada.

O questionamento levantado nesse texto é qual o lado que devemos apoiar quando uma situação desse tipo acontece? De quem oprime ou de quem é oprimido? Quando sugerido que devemos rir de nossos defeitos não há problema quando se trata de ser uma pessoa esquecida, ou desastrada. Contudo rir de caraterísticas físicas como cor da pele e textura do cabelo não fazem sentido a partir do momento que esses pontos são características físicas de quem a pessoa é. Porque achar engraçado em ser negro ou por ter o cabelo afro? Pessoas brancas se diminuem por terem cabelos lisos?

Chegando assim a conclusão de que o humor não é isento e que piadas machistas e racistas serão sim contestadas, onde a velha pergunta que sempre se escutou nas mídias: “ Qual o limite do humor? ” Deve ser entendido por todos que sim, há limites, inclusive para o humor. A autora chega ao final do primeiro capítulo com uma frase de Henfil: “ O humor que vale para mim é aquele que dá um soco no fígado de quem oprime. ”

Em opiniões também matam, segundo capítulo do livro, a autora escreve sobre os comentaristas de TV, que muitas vezes poderiam ser chamados de “especialistas em opinião”, no qual comumente dão pitacos em diversos assuntos, contudo muitas vezes sem o conhecimento de causa necessário para falar a respeito.

Para pessoas que insistem em emitir a própria opinião, isso não faz mudar os dados e fatos de uma sociedade. Como por exemplo, pessoas dizerem que somos todos iguais e que não acreditam que exista diferença entre homens e mulheres, os dados de que a cada 5 minutos (de 2012) uma mulher é agredida no Brasil, não irá mudar, pois isso é um fato. Emitir uma opinião de que as pessoas que são gays não sofrem homofobia, não alteram os dados de que o Brasil é um dos países que mais matam pessoas trans.

A autora questiona como uma pessoa queira imitir opinião ou legitimar uma causa, quando a mesma ignora fatos importantes que cercam nossa sociedade. Em seguida levanta-se a questão de que, pior do que pessoas darem opiniões sem fundamentos é a perpetuação da violência que ela vai reverberando. Afinal de contas quando opiniões assim são faladas, estamos falando de vidas de pessoas e não de um produto que é vendido no supermercado. Afinal de contas, machismo é machismo e racismo é racismo, mesmo que venham em forma de opinião e elas devem ser combatidas.

Vamos a minha opinião?

Esse livro deve estar na cabeceira de todas as camas. Juro que ao ler eu me perguntei, onde, com quem e o que estava fazendo que não vi nada do que ela estava escrevendo. Me senti ao longo da leitura uma verdadeira alienada. Mas ao mesmo tempo, penso que não é tarde para adquirir conhecimento de causa com conteúdo.

Já passei por situações nas quais mulheres já falaram para mim que não acreditam no feminismo e que somos todos (as) iguais. De verdade...? Nem argumento com pessoas assim, a não ser que peçam minha opinião. Pessoas assim me cansam real. Falar que a mulher é igual ao homem é no mínimo ultrajante ou melhor dizendo, alienante, e acredito eu, que pessoas assim preferem não enxergar a realidade ao redor.

Acho verdadeiramente triste que mulheres venham com esse papo. Fica claro que pessoas assim apenas conseguem olhar para o próprio umbigo. Já li uma vez uma mulher se simpatizando com uma determinada causa feminista negra, no qual ela colocava que ela não fazia parte das estatísticas. Sinto muito manas, mas ser mulher já te faz fazer parte de alguma estatística. Pode não ser de um tipo, mas de outro, você será. Independentemente de cor, credo ou classe social. Portanto se nos compadecemos devemos nos compadecer pelas outras e por nós mesmas.

O primeiro capítulo que fiz a resenha é fenomenal, lembro como se fosse hoje eu assistindo ao extinto programa do Jô Soares quando o humorista Marcelo Marrom era o entrevistado da noite! Naquela época, acredito que deve fazer uns 3 anos atrás, eu nem era engajada em nada e mais alienada que batata doce. Mas a forma como ele se referia a si mesmo e aos outros negros, diminuindo a todos a cada piada me incomodava demais. Nunca vi necessidade de ser engraçado precisando diminuir os outros, mas pelo visto para ele isso era muito engraçado. Só acho ele mais um vendido da mídia precisando se manter em uma emissora tão vendida quanto ele. Portanto quando li o primeiro texto dela, senti uma sensação de conforto por perceber que minha percepção de 3 anos atrás não estava errada e que minha indignação era legítima, embora para outras pessoas tudo bem escutar piadas daquele teor.

Ao longo da leitura ela vai falando de diversas outras mulheres e fatos importantes para se tomar conhecimento. Como disse, sou mirim quando o assunto é feminismo e vi nesse livro uma série de nomes que fiquei muito interessada em buscar e ler suas respectivas obras. Não achei o livro da Djamila apenas um compilado de publicações, mas um compilado de informações necessárias e acima de tudo, um livro que estimula a pesquisa de outras autoras e referências com essa temática. O que pude perceber é que a autora não tem problema nenhum em criar desconforto com sua escrita e muito menos inimizades. Em uma das suas escritas ela cita a apresentadora Xuxa, como propagadora e romantizadora do trabalho infantil, quando a mesma é abordada em seu carro por crianças que estavam trabalhando nas ruas. Até onde sabemos, trabalho infantil, no Brasil é crime, não é mesmo?

Esse livro só me fez querer buscar outros que ela já publicou, assim como conhecer outras feministas. Vale a pena real para quem tem interesse de ler um livro de conteúdo!

E vocês, já leram algum livro da autora? Não deixem de comentar!

Excelente segunda

Beijos carinhoso,

Natália Carrieri.

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