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Resenha: A invasão cultural norte americana

Sinopse

O modelo cultural imposto pelo dominador pode destruir a identidade do povo dominado?

Esta é a questão central analisada por Júlia Falivene Alves, formada em Ciências Sociais e professora de História. A partir da análise do nosso cotidiano, a autora denuncia a condição do Brasil de colônia cultural dos Estados Unidos e o resultado da destruição da nossa identidade nacional em favor da adoção do estilo de vida norte-americano.

Um espaço significativo é dedicado aos meios de comunicação de massa e aos brinquedos infantis. São resgatados importantes capítulos da história do rádio, da música, do cinema e da televisão no Brasil. A principal preocupação da autora é com a análise dos conteúdos ideológicos veiculados pela cultura importadora.

Através de questionamentos a respeito de quem éramos antes do processo de invasão, em quem nos transformamos e a serviço de que e de quem atua o colonialismo cultural, são denunciadas, sem xenofobia, mas de forma contundente, a infiltração de modelos norte-americanos e as perigosas consequências que isso pode apresentar para nossa identidade nacional.

invasão cultural

Olá queridos leitores!

A resenha de hoje é de um livro que me foi emprestado pelo Dan, meu namorado. Ele gosta muito desse livro e queria que eu lesse, pois bem...eu li! Leitura muito interessante e cheio de questionamentos.

Vamos a resenha?

No primeiro capítulo intitulado, qualquer semelhança é mera consequência, temos a vida do personagem Rogério discorrida aos leitores. No caso ele mora em São Paulo e está atrasado, pois acabou pegando a hora do rush. Enquanto ele pega mais um farol fechado procura uma rádio para escutar uma música e começar a mudar o dial, sendo que a opções que lhe aparecem são Tina Turner, Madonna, Survivor, James Taylor entre outros. No final ele acaba optando pelo Lionel Richie.

Após escolher a estação de rádio, Rogério acaba sendo cortado no trânsito, em resposta ele faz o sinal de OK, visto que para os brasileiros há um outro significado. Ele acaba tendo que parar em outro farol e quando percebe está olhando para um Outdoor da Malboro.

Mais a frente ele tem que parar em outro farol, nessa hora ele sente vontade de fumar e tira do seu jeans um maço de cigarros Hollywood. Uma fagulha voa e cai na sua camiseta pink, presente da sua namorada. Para arrumar o cadarço do seu AllStar, e ele se lembra que vai para o CCAA no dia seguinte.Quando Rogério finalmente chega ao destino para encontrar sua namorada ele sabe que ela é linda, principalmente por ela ser tão parecida com a Olivia Newton – John, no filme Grease.

Rogério é um rapaz que viveu nos meados da década de 60, nascido em São Paulo, de classe média. Quando criança adorava assistir a rede globo, pois nela tudo dava certo, todos estavam à postos na hora certa, sem atrasados, fora que tudo pareceria muito real. Tão real que realmente era. Assim como ele gostava muito de assistir aos diversos desenhos, como Scoobydoo, Tom e Jerry. Assim que aprendeu a ler passou a gostar dos gibis da turma do Charlie Brown, Mickey, Luluzinha entre outros.

A última vez que fez uma viagem foi para Disney, aos 15 anos. Sua preferência no campo das mulheres são as loiras, altas de olhos claros e pele bronzeada. Liberadas, é claro, mas não dessas feministas revoltadas. Luciana, sua namorada apresenta todas a características que ele aprecia, afinal de contas, ela saber como ser feminina na medida certa.

No capítulo 2 é abordado o assunto sobre o que é de fato uma invasão cultural, como pode-se analisar, uns se identificarão com o Rogério de forma intensa e outras menos, contudo essa identificação e percepção não muda o processo já instalado. Principalmente quando essa mudança de conduta ocorre de forma individualizada.

Assim como não aceitar e reconhecer que produtos importados possuem sua qualidade e valor seria uma forma de pobreza de espírito. Contudo quando se fala de invasão cultural, aborda-se desde a época do descobrimento do Brasil. Como sempre tivemos esse processo conhecido pela parte do dominador e não do dominado, se torna mais fácil entender que enxerga-se as opressões de culturas já preexistentes no país como algo natural e até mesmo necessário a evolução do país dominado, no caso o Brasil.

Analisando com maior profundidade é possível perceber como a cultura indígena e africana foram oprimidas para que os colonizadores pudessem se estabelecer no local conquistado. Portanto para servir ao branco dominante o índio e o negro precisaram aprender a língua deles, a plantar a comida deles, se comportar com eles, assim como acreditar no Deus deles e rezar a reza deles. Tudo isso foi um processo de embranquecimento no continente dominado. Como é fato que as primeiras gerações de dominados sentiram literalmente na pele a dominação cultural.

Entretanto foi na década de 30 que a influência europeia foi cedendo espaço para a norte americana. Nessa época o presidente vigente era Getúlio Vargas, conseguindo de forma discreta realizar empréstimos de equipamentos, assim como nessa época o estabelecimento de subsidiária (filiais) americanas no Brasil. Foi à partir daí que a invasão através de produtos alimentícios, das mídias de massa, como televisão, rádios, filmes, histórias em quadrinhos, música se instalaram com maior força em nosso país.

Nessa mesma época, usando o fato do país ser dependente economicamente, os Estados Unidos garantiram a aliança do Brasil, contra a Alemanha, Japão e Itália e depois contra a expansão do socialismo e do poder da URSS. Sendo assim, acabamos sofrendo o domínio cultural, mas de uma forma na qual a dominação chegasse a todos de forma mais rápida e sem a necessidade dos Estados Unidos terem que desembarcar em nosso país e realizar uma invasão armada como os português e ingleses realizaram. Ou seja, uma invasão teleguiada, sem a presença do dominador e de forma mais inteligentes, de forma velada, mas muito presente no cotidiano do brasileiro.

Vamos as minhas considerações?

Esse é um livro que deveria ser lido pelos brasileiros ainda quando crianças, como um tipo de cartilha. Por aqui algumas pessoas podem acreditar que eu seja de esquerda. Mas vou logo avisando, nem de esquerda, nem de direita eu sou neutra e acredito em um país melhor, independente de lado. Sendo assim não deixo de ler o que livros com esse viés tem a passar e ensinar, assim como livros de cunho de direita. Acredito sempre no equilíbrio e não no radicalismo de ideais.

Mas vamos voltar ao que interessa! Tive muita dificuldade para ler sobre esse assunto, isso porque estamos falando de um livro de pouco mais de 140 páginas, ou seja, é um livro pequeno. Mas se você absorver tudo o que está nas páginas, de verdade, parece ter 300 páginas. O conteúdo é muito bom e aos poucos você vai vendo como de fato somos uma nação dominada e muito pelos Estados Unidos. Na minha escola por exemplo, nunca ensinaram sobre o movimento brasileiro chamado Tropicália. Na sua ensinaram? Você conhece a importância desse movimento em nosso país e a importância histórica dele para a cultura musical brasileira? Pois é...

Na sua escola ensinaram como a Rede Globo tornou-se uma das maiores emissoras de televisão através de um patrocínio milionário, na qual ela produziria e produz conteúdo nos padrões norte – americanos e principalmente os jornais ( Jornal Nacional) produzido de uma forma na qual o conteúdo apresentado é de forma rápida, para que assim, aquele que recebe a notícia nem consiga raciocinar sobre o que está sendo apresentado. Mostrando sempre mazelas sociais e enaltecendo acontecimentos sobretudo americanos.

Ela não comentou no livro, mas vale ressaltar que outra coisa que a rede globo faz e que é proibido por lei é a mídia cruzada, ou seja, ter o mesmo conteúdo em diversos formatos. A Globo é mestre nisso. Afinal de contas ela chega a todos através da matriz, das filiais, de jornal impresso, da rádio e outros formatos de jornais, com roupagem diferente, mas com o mesmo conteúdo.

Outro assunto muito importante abordado no livro foram as mídias que chegam para as nossas crianças, como as histórias em quadrinhos americanas, como Pato Donalds, ou Mickey, sempre que possível e de forma sutil representando o Brasil ou especificamente o brasileiro como Jé Carioca, aquele papagaio divertido e gente boa, mas que sempre está atrás de mulheres e metido em alguma encrenca.(Fica a minha dúvida, só existem brasileiros desse jeito? Toda uma nação ser isso é muita gente, vocês não acham?). Ou seja os americanos forma passando a imagem ao mundo de que TODO brasileiro é assim. Nas mídias visuais, como os quadrinhos americanos apresentam bastante informação em cada quadrinho e cores bem vivas, fazendo com que assim a história não precise ser assimilada pelo cérebro.

E finalmente chegamos a outra forma de dominação cultural, os brinquedos. Acredito que não há de forma mais icônica e que possa ilustrar de forma clara o que estamos falando, como a boneca Barbie. Afinal de contas a Barbie é o padrão de mulher do mundo todo, ou não é? Pelo menos aqui no Brasil vejo todos os dias diversas, se não centenas, de loiras de olhos claros, altas e cabelos lisos volumosos e brancas, andando por aí e fazendo compras no supermercado. Afinal de contas representatividade é algo que conta, visto que somos um país com mais de 80% da população negra e parda, a Barbie realmente nos representa! (SQN). Ainda bem que há uma grande maré indo contra esse sentido para resgatar a autoestima das nossas crianças, no caso as meninas, numa questão de se enxergarem naquela personagem de brinquedo.

Já para os meninos, porque não estimular um pouco de violência indireta e nas entrelinhas, com brinquedos de guerra? Afinal de contas, o Brasil é uma das maiores potências quando nos referimos ao armamento bélico, ops, esqueci é os Estados Unidos! Tanques de guerra, armas de atirar de mentirinha (é claro), super-heróis que estão sempre combatendo o crime de forma violenta e física, com socos, armas. Logo o boneco que é lançado sempre tem ou um cinturão que é vendido a parte com superpoderes para dominação do inimigo ou com um relógio que solta diversos raios matadores e barulhos esquisitos (hoje esses barulhos são em português, mas houve sim uma época que eram em inglês). Tudo isso na obtenção de manter a paz mundial. Nem vou comentar do jogo War.

Enfim, é muito possível ver que somos massivamente dominados por eles, na forma de vestir ( atires a primeira pedra quem nunca desejou um Nike Socks, nem vou entrar no mérito do trabalho escravo dessa empresa, fica pra outro post). Roupas com dizeres em inglês, a bolsa Michael Kours e assim por diante. Contudo acredito que hoje em dia há movimentos fortes e crescentes contra essa maré. Como por exemplo as diversas feiras de pequenos produtores ou produtores independentes, espalhados pelo Brasil. Essa é apenas uma das formas de incentivar efetivamente o comércio local, feito por mãos de brasileiros e com tanta qualidade ou até mais, de produtos que vêm de fora e que muitas vezes podem não ter a mesma originalidade que as que são produzidas aqui. Afinal só um brasileiro pode saber o que outro brasileiro precisa e atende de fato suas reais necessidades, culturais, artísticas, de mobiliário para casa e assim por diante.

Assim como se faz importante darmos valor aos nossos artistas, como músicos, pintores, grafiteiros, escultores, escritores e conhecer um pouco mais sobre os movimentos brasileiros contra essa dominação, o tropicália é apenas um deles a ser conhecido. Há tantas outras coisas bacanas a serem valorizadas internamente do nosso país. Isso não quer dizer ser patriota ao extremo e não enxergar os problemas sociais existentes e que precisam sim ser melhorados. Mas significa saber valorizar o que vem de dentro do nosso país, afinal, mesmo que a rede “tolo”, insista em dizer o contrário no Jornal Nacional, há sim diversos movimentos lindos acontecendo em prol de uma sociedade melhor e mais justa para todos, acontecendo aí, bem perto de você e o mais legal, sendo feita por mãos de brasileiros, que decidiram arregaçar as mangas!

Vou encerrar essa resenha com uma frase do livro que eu gostei muito:

“O Brasil quem USA sou EEUU”

Excelente semana a todos!

Beijos carinhosos

Natália Carrieri

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